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PLATÃO (2) – ALMA E TEORIA DA REMINISCÊNCIA

TEXTO DE APROFUNDAMENTO

 

Alma

No vídeo, vimos que Platão considera a alma imortal. Ele também sugere que ela já teve muitas vidas e que, ao voltar ao corpo, traz consigo o conhecimento adquirido anteriormente. Vejamos as palavras dele na obra Mênon:

“Então, a alma, desde que é imortal e tendo nascido muitas vezes, e tendo visto todas as coisas tanto aqui quanto no outro mundo, tem aprendido tudo o que há. Assim, não precisamos no surpreender se ela consegue lembrar o conhecimento da virtude ou de qualquer outra coisa que, como vimos, ela já possuiu. Toda a natureza é semelhante, e a alma tem aprendido todas as coisas, então quando um homem lembra-se de uma única parte do conhecimento (...) não há razão para que não deva encontrar todo o resto, se ele mantiver um coração forte e não cansar da busca, pois buscar e aprender são, de fato, nada mais que recordar.”

tresSegundo Platão, a alma também é composta de três aspectos: a razão, os apetites e o ímpeto (ou a coragem), sendo a razão um único aspecto que sobrevive à morte do corpo. Quando a alma está implantada em um corpo, ela forma com ele uma unidade. Contudo, essa unidade alma/corpo tem diferentes fontes de motivação e essas fontes, não raro, entram em conflito.

 

Conflitos

Às vezes o apetite pode motivar alguém a buscar algo que é agradável no momento como, por exemplo, beber com frequência ou jogar, mas cujas consequências podem comprometer seu bem-estar em longo prazo. Há um conflito entre o que a pessoa deseja agora e o reconhecimento do que é bom para ela ao longo do tempo. É a razão que nos permite abarcar e compreender a ideia da nossa vida como um todo, como algo que vai além do momento, e que nos motiva a buscar o futuro, opondo nosso comportamento aos apetites que comprometem essa busca de longo prazo.

Perceba que Platão não considera a razão apenas como uma faculdade intelectual que nos permite identificar o que é melhor para nós ao longo do tempo, a razão também nos motiva, mesmo contra os nossos desejos ou apetites. Ela nos faz resistir ao aqui e agora.

Contudo, esse conflito, segundo Platão, não explica todos os nossos comportamentos. Existe também o que ele chama de thumos, que às vezes é traduzido como ímpeto, coragem, ou emoção. O ímpeto se diferencia da razão por ser não-articulado, como nas crianças e nos animais, mas o ímpeto também se opõe aos apetites às vezes. Platão afirma que de vez em quando nós nos opomos a determinados apetites não por conta da razão, mas por que tais apetites conflitam com certos sentimentos e ideais que sustentamos, eles conflitam com nosso ímpeto. Assim, conseguimos nos opor a certos desejos de curto prazo sem que seja necessário articular nenhum raciocínio.

filoDe toda forma, esse componente emocional do ser humano, ainda que seja mais complexo que os apetites, não apresenta as mesmas habilidades reflexivas da razão. Por isso, Platão considera que a melhor vida é aquela na qual a razão dirige a alma por completo, limitando o poder de ação dos outros dois aspectos. A razão se preocupa com o bem-estar integral da pessoa, enquanto que os apetites e o ímpeto ocupam-se apenas de si mesmos, o que pode levar a comportamentos disfuncionais caso eles se tornem preponderantes. A razão é a base do conhecimento filosófico, e por isso o caminho para a compreensão do bem.

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Obras sugeridas:

“Plato, a Very Short Introduction”, de Julia Annas.

"A New History of Western Philosophy - Ancient Philosophy", de Anthony Kenny.

“An Introduction to the History of Psychology”, ed. 7, de B. Hergenhahn e T. Henley.

“Mênon”, de Platão.

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