RENÉ DESCARTES (2) – RELAÇÃO MENTE E CORPO
TEXTO COMPLEMENTAR
Segundo Descartes, a mente se comunica com o corpo físico através da glândula pineal, mas a mente não é um elemento material, ela é livre, por isso ela pode inibir ou modificar os comportamentos reflexivos que surgem como respostas mecânicas ao estímulo ambiental. Ainda segundo o filósofo, as emoções estão relacionadas à quantidade de espíritos animais envolvidos em uma resposta, ou seja, quanto mais espíritos animais o cérebro libera em uma resposta, mais forte é a emoção.
As emoções são vivenciadas conscientemente como paixões (amor, ódio, desejo, alegria, tristeza etc.), mas a vontade (uma faculdade da mente) pode e deve controlar as paixões para que a conduta do indivíduo seja virtuosa. Por exemplo, se a raiva surge num momento em que o comportamento raivoso é apropriado, a mente permitirá ou até facilitará esse comportamento; entretanto, se o comportamento raivoso parece inapropriado, a mente tentará inibi-lo.
Nos casos em que as paixões ou emoções sejam muito intensas, a vontade pode ser incapaz de inibir o comportamento reflexivo, logo, a pessoa se comportará irracionalmente. Nessas situações, o corpo predomina em relação à mente.
Descartes e a Psicologia
Descartes tentou desenvolver uma explicação puramente mecanicista de grande parte dos comportamentos e das funções corporais humanas. Sua análise mecanicista do comportamento reflexivo pode ser vista como o início do que mais tarde viria a se desenvolver como psicologia comportamental (behaviorismo). Por outro lado, ele também deu especial atenção ao cérebro (e todo o sistema nervoso) como um mediador importante do comportamento, o que lançou as sementes do que seriam as futuras pesquisas no campo da neuropsicologia.
Também é digno de nota o foco da teoria cartesiana em relação à experiência puramente subjetiva, pavimentando o caminho para o estudo científico da consciência. Boa parte de seu trabalho discute o conflito entre o comportamento animal e o humano, o comportamento irracional e o racional, precisamente o tipo de conflito que Freud estudaria mais tarde em um arcabouço mais elaborado. Por fim, sua ênfase no uso da introspecção como recurso para se chegar a ideias claras e nítidas o coloca como um percursor da fenomenologia.
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Obras sugeridas:
“A Conceptual History of Psychology”, de John D. Greenwood.
“An Introduction to the History of Psychology”, ed. 7, de B. Hergenhahn e T. Henley.