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ALEXANDER LURIA (2) – AS TRÊS UNIDADES FUNCIONAIS

É importante não confundir sistema funcional (que estudamos no primeiro vídeo) e unidade funcional. As unidades funcionais são três, e cada uma compõe uma parte diferente do cérebro. Então, quando Luria falar em unidade funcional, ele está se referindo a estruturas cerebrais que são verdadeiros sistemas executivos de determinadas funções mentais. Já os sistemas funcionais são inúmeros (e não apenas três) e envolvem partes do cérebro (às vezes áreas presentes em mais de uma unidade funcional) e processos fisiológicos, ou seja, envolve estruturas e processos que também estão fora do cérebro, basta lembrarmos do exemplo da respiração oferecido no primeiro vídeo.

 

Unidades funcionais

brainNo segundo vídeo desta série, estudamos as três unidades funcionais descritas por Luria. De forma resumida, podemos dizer que a primeira unidade permite, especialmente, a atenção às necessidades mais básicas do organismo como a fome, a sede, a percepção da dor, calor etc. Ao nascermos, essa área do cérebro já está suficientemente madura. Na medida em que o bebê se desenvolve, outras áreas do cérebro vão amadurecendo e os córtices superiores (responsáveis pela segunda unidade funcional) passam a atuar de forma mais preponderante. Essa área é responsável pelo conhecimento do próprio corpo e é justamente a segunda grande região a amadurecer; não é à toa que na segunda infância (dos 3 aos 6 anos de idade), quando a área do esquema corporal está se desenvolvendo rapidamente, as crianças exibam de forma acentuada o comportamento egocêntrico e se comuniquem consigo mesmas. Por fim, a partir da terceira infância a área relacionada à terceira unidade funcional (córtex frontal) ganha impulso em seu desenvolvimento. É a área psicomotora, na qual o pensamento é mais organizado e estruturado e, quando necessário, é autocensurado. Tal maturidade relaciona-se à linguagem mais desenvolvida que emerge a partir dos seis ou sete anos de idade.

 

Linguagem como ferramenta psicológica

languageDe acordo com Luria, a linguagem exerce um papel fundamental no desenvolvimento das funções psicológicas predominantes no indivíduo adulto, as chamadas funções psicológicas superiores. No primeiro vídeo já estudamos a definição de funções psicológicas superiores. Note que, para Luria, a inteligência e o cérebro se desenvolvem através das atividades nas quais estamos inseridos no contexto cultural e social, particularmente com a mediação proporcionada pela linguagem enquanto ferramenta que usamos para a produção de outras ferramentas com as quais aprendemos. Imagine o seguinte cenário: o cérebro (que está dentro de um indivíduo) e o ambiente cultural que o cerca; a atividade do indivíduo e o uso que ele faz da linguagem realizam a mediação entre as funções psicológicas e o mundo externo. Luria procura compreender como esses circuitos se conectam, como as dinâmicas intelectuais e culturais estão em ação no processo dinâmico que intermedeia as relações entre cérebro e cultura.

Luria relaciona os processos psicológicos à linguagem e ao mundo social, o contexto histórico, o meio cultural. Ele conecta vivamente (em vez de separar) a inteligência e o ambiente; ele amplia (em vez de reduzir) a capacidade humana para o crescimento através da interação da inteligência com o ambiente cultural e social de maneira sustentada. Luria focaliza o impulsionamento oferecido pelos fatores culturais ao desenvolvimento intelectual, algo que é próprio de todo ambiente social e parte da vida cotidiana. Atividades corriqueiras como brincadeiras são percebidas por ele como processos de ensino, nos quais elementos essenciais da cultura são repassados e permitem sua manutenção.

Para ser bem compreendido, é necessário notar que Luria desenvolve seu trabalho tendo como pano de fundo a complexidade linguística e étnica da Rússia pós-revolucionária, uma imensidão de terras abrigando uma infinidade de pessoas, línguas e dialetos. Luria morreu em 1977, e ao longo de toda a sua carreira como estudioso o governo soviético exerceu forte controle sobre as políticas culturais e geográficas. As teorias de Luria não são abstrações, elas estão fortemente vinculadas às realidades históricas e sociais que marcaram a industrialização da Rússia moderna e a representação política das minorias conflituosas. Interessa a Luria compreender as relações entre inteligência e cultura, particularmente como os processos psicológicos são afetados por mudanças culturais profundas como as experimentadas pelas populações rurais em processo acelerado de industrialização. No terceiro vídeo desta série nos deteremos nos estudos de Luria a esse respeito.

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Obras recomendadas:

“The Praeger Handbook of Education and Psychology” de Joel Kincheloe e Raymond Horn Jr.

“Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico” de Marta Kohl de Oliveira.

“Neuropsicologia” de Patrick Ramon S. Coquerel.

“The Working Brain: An Introduction to Neuropsychology” de Alexander Luria.

“Teoria do Sistema Funcional” de Leandro Kruszielski. Disponível aqui.

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1 Comentários | Deixe o seu comentário
  • CELIA REGINA NONATO DA SILVA LOUREIRO

    Excelente!

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