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ALEXANDER LURIA (3) – SOCIEDADE, CULTURA E COGNIÇÃO

Vale a pena trazermos à discussão o conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP) de Vygostky ao abordarmos as implicações educacionais dos trabalhos de Luria. A ZDP é, em poucas palavras, o repertório de aprendizagens emergentes que um indivíduo possui em um determinado momento. Aprendizagens emergentes são aquelas que ainda não estão totalmente amadurecidas, mas também não são completamente ignoradas pela pessoa; são aprendizagens em processo de desenvolvimento e consolidação. Podemos ilustrar essa situação com a dos indivíduos de desempenho intermediário que vimos no vídeo, aqueles que hora apresentavam o modo de pensamento gráfico-funcional, hora exibiam o modo de pensamento categorial. Esses sujeitos ainda estavam em processo de consolidação das novas habilidades que emergiam graças às transformações sociais e culturais pelas quais suas comunidades estavam passando.

sociTanto Luria quanto Vygotsky veem a inteligência como algo que emerge do impulso entre as funções psicológicas e a influência do ambiente cultural. Para ambos, esse impulso pode ser favorecido ou facilitado com orientação externa apropriada. Muitas vezes essa orientação ocorre de forma espontânea através de processos pouco organizados; todos os dias nos envolvemos em atividades cooperativas (muitas delas aparentemente banais) com pessoas mais experientes, atividades nas quais aprimoramos inúmeros conhecimentos e habilidades necessários à vida em sociedade. Contudo, essa orientação também pode ocorrer de forma planejada e intencional como nos processos de escolarização e de treinamento profissional.

Luria entende que quando nos tornamos historicamente conscientes, ou seja, quando compreendemos que somos seres que se constituem na e pela atividade (intimamente ligada ao trabalho e à linguagem), nós podemos reorientar os canais para o desenvolvimento psicológico de ideias, capacidades e habilidades. O amplo estudo realizado com as comunidades rurais do Usbequistão e do Quirguistão comprovou a hipótese de que os processos mentais não são fixos nem imutáveis, mas podem ser modificados no contexto das mudanças que se operam na vida social e cultural, e pela introdução de sistema de mediação como a escrita e o pensamento crítico.

As pesquisas de Luria também têm implicações relacionadas à educação de crianças. Ele entende que na medida em que a criança adentra o nosso mundo, ela é inicialmente soterrada pela complexidade do ambiente social, mas a ajuda dos cuidadores, através da fala, facilita o direcionamento das atividades da criança. Inicialmente, a atividade é compartilhada entre a fala dos adultos, a orientação e a atividade da própria criança. Segundo Luria, a criança então se desenvolve, aprende a falar e pode então dar comandos a si mesma, falando para si. A fala da criança passa a exercer a função do adulto e, mais tarde, torna-se internalizada; a criança não precisa mais falar em voz alta consigo mesma. A criança internalizou o processo de facilitação/orientação realizado incialmente apenas pelo adulto, e essa internalização dá-se no contexto de solução dos problemas que ela encontra cotidianamente. Os padrões de fala emergem em resposta a situações que envolvem dificuldades. Certamente há diferenças individuais na solução de problemas e, em consequência, na internalização de habilidades de raciocínio.

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Obras recomendadas:

“The Praeger Handbook of Education and Psychology” de Joel Kincheloe e Raymond Horn Jr.

“Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico” de Marta Kohl de Oliveira.

“Neuropsicologia” de Patrick Ramon S. Coquerel.

“The Working Brain: An Introduction to Neuropsychology” de Alexander Luria.

“Teoria do Sistema Funcional” de Leandro Kruszielski. Disponível aqui.

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